Mais de trĂȘs mil pessoas, incluindo mulheres e crianças, foram obrigadas a abandonar a comunidade de Miangalewa, no distrito de Muidumbe, provĂncia de Cabo Delgado, devido a mais um ataque perpetrado por grupos armados. O episĂłdio, ocorrido durante a luz do dia da Quarta-feira, 18 de Dezembro, Ă© descrito como o quarto ataque registado na ĂĄrea em apenas uma semana.
O ataque ocorreu por volta das 12h00 e deu-se num momento em que grande parte da população se dedicava Ă s prĂĄticas agrĂcolas, sementeira para a Ă©poca agrĂcola de 2024/2025 de modo a abastecerem os seus saleiros depois do Ășltimo saque que sofreram por parte dos terroristas.
A violĂȘncia obrigou os residentes a abandonar as suas casas em debandada, carregando bens essenciais e objectos pessoais. Entre os deslocados, muitas crianças e mulheres foram vistas carregando utensĂlios domĂ©sticos na cabeça enquanto fugiam para lugares considerados mais seguros, mesmo que incertos.
Além do impacto humano, o incidente levou à interrupção do trùnsito na Estrada Nacional 380, no troço entre Macomia e Awasse, uma via crucial para a circulação de pessoas e mercadorias em Cabo Delgado.
Cabo Delgado enfrenta, de 2017 uma insurgĂȘncia armada protagonizada por grupos associados ao Estado IslĂąmico. Os ataques tĂȘm sido marcados por episĂłdios de extrema violĂȘncia que incluem decapitaçÔes e morte de civis, pilhagem de recursos, pilhagem de bens populares e destruição de infraestruturas tanto privadas quanto pĂșblicas.
O Ășltimo grande ataque reportado na provĂncia ocorreu em maio deste ano, quando cerca de uma centena de insurgentes invadiu a sede distrital de Macomia, saqueando a vila e enfrentando as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) e militares ruandeses. Os confrontos resultaram em perdas humanas e materiais significativos.
HĂĄ que lembrar que no final de Novembro e inĂcio de Dezembro de 2024, os grupos insurgentes intensificaram suas actividades em sete distritos de Cabo Delgado, incluindo Muidumbe, Metuge, MocĂmboa da Praia e Meluco. Apesar de concentrados em acçÔes de pilhagem, os ataques resultaram numa fatalidade confirmada.
A contĂnua instabilidade na provĂncia rica em recursos naturais nĂŁo apenas desafia os esforços de segurança, mas tambĂ©m agrava a situação humanitĂĄria. Os deslocados de Miangalewa somam-se Ă s centenas de milhares de pessoas que jĂĄ abandonaram as suas casas desde o inĂcio do conflito, enfrentando condiçÔes precĂĄrias nos centros de acolhimento e comunidades de reassentamento.
Contudo, enquanto o governo moçambicano, com o apoio de forças internacionais, e em especial ruandesas que teve um orçamento aprovado pela UniĂŁo Europeia, tenta conter a insurgĂȘncia, a população continua a viver sob constante ameaça, sem perspectivas claras de retorno Ă normalidade, em uma incursĂŁo que vai para oito anos. (Integrity)