Proposta de Nyusi para diálogo com candidatos presidenciais levanta suspeitas sobre sinceridade e propósitos




A recente proposta do Presidente da República, Filipe Nyusi, de dialogar com os candidatos presidenciais das eleições gerais de 2024 para buscar soluções à instabilidade política que o país atravessa tem gerado amplas críticas e desconfiança entre analistas políticos e a sociedade civil.


No centro das discussões estão questões sobre a credibilidade da iniciativa, suas reais intenções e o ambiente repressivo que marca o contexto político actual.

Edson Cortez, Director do Centro de Integridade Pública (CIP), expressou abertamente seu cepticismo em relação à iniciativa. Para ele, a proposta de Nyusi não passa de uma tentativa de encobrir as graves irregularidades cometidas nas eleições e a repressão violenta que se seguiu.

“Se fosse Venâncio [Mondlane], nunca acreditaria. Não acredito na boa-fé desse diálogo. Eu iria querer garantias, e não acho que, neste momento, o nosso presidente consiga dar garantias disso”, afirmou.

Cortez criticou duramente a conduta do governo, acusando-o de liderar um Estado que utiliza a polícia para reprimir e matar inocentes que apenas expressam seu descontentamento com as irregularidades das eleições de 9 de outubro passado. Além disso, Cortez ressaltou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) age como um “departamento jurídico” do partido no poder, o que compromete ainda mais a credibilidade do processo de diálogo.

“É por isso que este país está como está. Porque Frelimo e RENAMO, durante anos, sentavam-se juntos e negociavam só eles. Temos que parar com isso, ou então não vale a pena termos eleições. Fizemos sem eleições”, declarou. Para ele, qualquer tentativa de reconciliação deve começar com uma auditoria forense do processo eleitoral, incluindo a recontagem dos votos e a responsabilização penal dos envolvidos nas irregularidades.

Este, também apontou directamente para a necessidade de responsabilizar as lideranças da Comissão Nacional de Eleições (CNE) e das forças da polícia. “O Sr. Bispo, que é o presidente da CNE, devia ser penalizado. A Procuradoria-Geral da República deveria abrir um processo contra ele. Toda essa crise que estamos a ver, as mortes e a instabilidade decorrem da fraude eleitoral que a máquina de gestão das eleições deixou acontecer. Essas pessoas devem ser processadas também.”

Enquanto isso, Fernando Lima, jornalista e analista político, compartilha uma visão menos contundente, mas igualmente questionadora. Ele reconhece que um diálogo pode ser positivo, mas considera que a proposta foi feita de maneira tardia e sob condições adversas.

“Esta proposta já deveria ter sido anunciada há muito tempo e talvez, se fosse anunciada há mais tempo, baixaria as tensões que estamos a viver em todo o país. Eventualmente, pouparíamos muitas vidas que se perderam nestas semanas, além de reduzir a destruição e os danos causados à nossa economia e à reputação do país.”

Lima levanta dúvidas sobre o objectivo da proposta e a real intenção por trás do diálogo. “A pergunta mais importante, talvez a pergunta-chave, é: qual é a agenda deste encontro? Essa pergunta não foi respondida pela comunicação de ontem”, disse, referindo-se ao anúncio de Nyusi. Também, destacou que qualquer diálogo só será possível com garantias claras de segurança para os candidatos da oposição, especialmente para Venâncio Mondlane.

O jornalista, relembra episódios do passado em que membros da oposição foram vítimas de represálias após participarem de encontros oficiais. “Venâncio Mondlane só pode comparecer a essa reunião se não dependerem sobre ele todas as iniciativas que foram anunciadas nos últimos dias em relação aos processos civis e possivelmente também processos criminais, que a sua integridade física será preservada e que uma tal iniciativa não seja um pretexto para prenderem este candidato. Aliás, como num passado não muito longínquo se fez uma reunião do Conselho de Estado e, à saída da reunião, o Sr. António Muchanga da RENAMO foi preso e mandado para Machava.”

As declarações de Cortez e Lima reflectem a desconfiança geral em relação à proposta presidencial. Num momento em que o país enfrenta uma crise política marcada por denúncias de fraude eleitoral, repressão e violência, analistas apontam que o diálogo só será eficaz se forem tomadas medidas concretas para restaurar a confiança nas instituições e garantir a transparência e justiça no processo eleitoral. Sem isso, afirmam, a iniciativa corre o risco de ser vista como um gesto vazio, incapaz de pacificar a nação.

De lembrar que desde que começaram as manifestações, mais ou menos um mês, é a primeira vez que Filipe Nyusi fala de propostas dessa natureza. Antes, se mantinham em discurso de pouca consistência e de carácter partidário e não exatamente de um chefe de Estado. (Integrity)

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